Vereador Gilson da Autoescola (Cidadania), postou vídeo exaltando manifestação na capital federal, apagou e depois publicou outra mensagem se posicionando contra atos terroristas após ter o mandato sob análise da Comissão de Ética da Câmara Municipal
O Brasil e o mundo viram, estarrecidos, o caos e o terror promovidos em Brasília, no último domingo (08), por milhares de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro que causaram prejuízos inestimáveis à democracia e ao patrimônio público. Em meio aos manifestantes, o vereador betinense Gilson da Autoescola (Cidadania). Orgulhoso de sua presença na capital federal, postou (e deletou) vídeo durante a manifestação que resultou em desordem e quebra-quebra. Seus quinze segundos de fama naquele stories, agora, está sob investigação da Comissão Permanente de Ética, Decoro Parlamentar e Estudos Legislativos – que poderá cassar o mandato do parlamentar.
Vale lembrar que em novembro, Gilson da Autoescola já vinha demonstrando a narrativa que seria construída pelos grupos bolsonaristas em pronunciamentos na própria Câmara Municipal de Betim. Em 04 de novembro, logo após o segundo turno das eleições, Gilson criticou o papel da imprensa – afirmando que foi omissa na cobertura dos acontecimentos de 30 de outubro e que o Poder Judiciário se calou.
O comportamento do vereador seguiu a linha da narrativa dos derrotados, colocando a culpa nos outros e não na incapacidade de gestão do governo que defende. Gilson foi, tal como os fanáticos, mais um disseminador de análises antidemocráticas e que fundamentam o discurso de ódio dos bolsonaristas.
“A resposta sabemos muito bem. Sabemos, mas a imprensa não noticia. Sabemos, mas a Justiça de cala. Sabemos, mas fingimos que tudo são apenas delírios do nosso fanatismo. Sabemos, mas no fim tudo não passará de uma velha mania de criarmos teorias da conspiração”, disse Gilson da Autoescola na referida data.
Ainda em seu discurso, Gilson chegou a afirmar que deputada federal Carla Zambelli (PL) teria viajado aos Estados Unidos, após as eleições, porque “calaram já a voz dela, como a maior representante de Minas Gerais”. O vereador esqueceu, contudo, que a mesma Zambelli foi aquela que ameaçou com a arma em punho, nas ruas de São Paulo, cidadãos em um estabelecimento comercial.
Em 29 de novembro, Gilson da Autoescola voltou ao púlpito para, mais uma vez, demonstrar seu claro apoio às manifestações bolsonaristas e criticar a cobertura da mídia. “Quanto às manifestações realizadas em todo o país, as quais vêm sendo denominadas de desordeiras e golpistas, quero fazer jus ao que vi e presenciei, pois eu mesmo lá estive por vezes e posso afirmar, com propriedade, que são ordeiras, pacíficas e democráticas”, afirmou. O vereador teve a ousadia de convidar o público presente a visitar a capital federal para conhecer o ‘caráter’ da manifestação.
Ainda em sua fala, o vereador, tal como um vidente e suas charadas, já dava sinais nas entrelinhas do caos e terrorismo que aconteceria em Brasília. “Infelizmente, esse mesmo povo (apoiadores de Bolsonaro) tem sido taxado como manipulado e alienado, mas sabemos a que objetivo temos nos propostos. Estão subestimando o poder deste povo”, disse o vereador.
Lobo em pele de cordeiro
O vereador Gilson da Autoescola se apresenta, como na fábula, de um lobo em pele de cordeiro. O parlamentar que critica aqueles que chamam os bolsonaristas de manipulados e alienados é o mesmo que sobe no palanque para repetir o discurso de ódio.
A presença do parlamentar em Brasília no dia dos atos terroristas pode ser considerada, de acordo com a Lei Orgânica de Betim, quebra de decoro parlamentar e resultar na cassação de seu mandato. Um dos artigos do texto aponta que um vereador perderá o mandato se “proceder de modo incompatível com a dignidade da Câmara ou faltar com o decoro na sua conduta pública”.
Em nota, a Câmara Municipal de Betim repudiou os atos do dia 08 último e informou que “é veemente contra todo e qualquer ato de vandalismo ou de antidemocracia. As manifestações de violência registradas em Brasília (…) são inadmissíveis”.
Após toda a repercussão nacional em torno de seu nome, o vereador mudou o tom do discurso (em sua própria defesa) dizendo ser contra os atos terroristas realizados. Quanto à possível cassação do mandato de Gilson da Autoescola, que está sob os holofotes da Comissão de Ética do Legislativo betinense, só o tempo dirá. Já suas condutas em pronunciamentos, essas são de conhecimento público e colocam em xeque o futuro político do vereador. Brasília e o Congresso ficarão, assim, apenas como um retrato na parede. Mas, como doem, diria Drummond.
Expulsão em curso
O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, pediu a expulsão sumária do partido do vereador de Betim (MG), Gilson da Autoescola, que participou dos atos golpistas deste domingo (8.jan) em Brasília. Em nota, Freire afirmou que a permanência do vereador nos quadros “gera dano de imagem irreparável ao partido”.
Vídeo que circula em aplicativos de mensagem mostram trechos do pronunciamento do vereador em novembro e imagens dos atos em Brasília no dia 08 de janeiro:
Abaixo, publicação feita após presença em atos golpistas e terroristas acontecerem:
Conteúdo com a colaboração do coletivo Jornalistas pela Democracia